Deixa As Palavras Voarem | Violência.

Puxou a gola do casaco para cima e encolheu-se, não tanto pelo frio gélido que se fazia sentir naquela noite de Dezembro mas sim para tentar passar despercebida. Dificilmente seria reconhecida numa zona quase unicamente frequentada por bêbados, prostitutas e toxicodependentes. Nada ali tinha a ver com ela mas, por outro lado, também não se identifica com o que estava prestes a fazer. Assim que o viu agarrou a superfície metálica e frio que havia colocado no bolso da gabardina umas horas antes. 

Não foi algo que espontâneo, exigiu preparação e sabia que eventualmente iria sofrer as consequências dos seus actos afinal, os fantasmas do passado alcançam-nos sempre. Levantou a arma e apontou-lha. Ele estava praticamente inconsciente. Quase lhe deu pena. Quase. Mas não ia permitir que ele voltasse a magoar a sua mãe. Não podia permitir. Nunca mais. Preparava-se para disparar quando, pelo canto do olho, viu algo que parecia tão deslocado naquela cena quanto ela própria, viu uma menina passar com a avó. A Avó. "O mundo é um lugar bom, minha querida. Quem o estraga são Homens. Se queremos um mundo melhor temos de ser melhores.". Ouviu-a tão claramente como se estivesse a seu lado. Foi mas que suficiente. Baixou a arma, virou costas e foi-se embora.

"Violência gera mais violência". Não é verdade. Todos temos uma escolha. É fácil combater violência com violência. Difícil é aniquilá-la com bondade. Difícil é ter força para ser a mudança que queremos ver no mundo.

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